Sicómoro
Alertas…
Nos últimos dias, tenho
refletido bastante a propósito de vários acontecimentos da nossa sociedade: a
impunidade e falta de sentido de estado e de responsabilidade de vários
titulares de órgãos de soberania; o mal-estar nas Forças Armadas Portuguesas; e
os alertas dos generais reservistas franceses sobre uma possível guerra civil.
1. Sempre ouvi dizer que
«à mulher de César não basta sê-lo, tem de parece-lo». E, na verdade, a falta
de impunidade e prolongamento no governo, do ministro da Administração Interna,
Eduardo Cabrita, é insustentável. Ninguém percebe, a não ser ele próprio e o
primeiro ministro, que a sua permanência no governo causa desgaste à classe
política e que a sua postura arrogante, por vezes, e sem sentido de estado, por
outro lado, estão a destruir as bases da cultura democrática. Pode
argumentar-se que não foi julgado, e que para isso teria de ser inquirido e
processado, mas há a chamada consciência política. Como se pode prolongar no
governo depois dos casos da inoperância nos incêndios de junho e outubro de
2017; das vítimas de Pedrogão Grande e do mau uso das doações dos portugueses;
do SIRESP (há dias o governo anunciou uma indeminização de 11 milhões de euros
à entidade gestora); das golas antifogo; do desrespeito a um partido português,
o CDS-PP, partido com assento parlamentar, chamando-o de «moribundo»; e na
putativa autorização aos festejos futebolísticos da última semana. Por muito
menos, o ministro Jorge Coelho se demitiu em 2001, com a queda da ponte de
Entre-os-Rios.
Ainda, neste assunto, a
falta de postura e compostura do secretário de estado João Galamba, ao insultar
jornalistas e o programa «Sextas às Nove», com uma linguagem vil e reprovável,
nas redes sociais.
A terminar, a história do
jovem deputado bloquista, Luís Monteiro, acusado pela companheira de maus
tratos e violência doméstica que renuncia à sua putativa candidatura à câmara
de Vila Nova de Gaia, mas mantém o lugar de deputado na Assembleia da
República.
Por este caminho, ninguém
se admire que os cidadãos tenham as classes políticas em tão baixa consideração
e favoreçam os discursos populistas. A ideia que fica, no comum dos cidadãos, é
que estão agarrados ao poder, ao dinheiro auferido ou que conhecem os «podres»
de muita gente e que se falassem, muitas cabeças rolariam.
2. Novamente, o governo e o parlamento tentam
realizar uma reforma nas Forças Armadas Portuguesas. Há uma década
aproximadamente, houve a tentativa, mas assim que os quartéis se mexeram, tudo
ficou em banho maria. Mal o assunto veio à praça pública, os militares
escreveram a chamada carta do «Grupo dos 28». Nesta missiva, onde Ramalho Eanes
e antigos chefes do Estado-Maior criticam a chamada «comissão liquidatária das
Forças Armadas» e o «ataque vil» aos militares.
Digna de nota é a atitude
de muitos governantes, num jogo do empurra. O ministro da Defesa, Cravinho, empurra
para o parlamento, o parlamento para o governo e a presidência. E o chefe
supremo das Forças Armadas, o Presidente da República, nada diz e refere que
espera o pronunciamento da Assembleia.
É preciso que se defina:
Portugal quer e precisa de Forças Armadas? Se sim, serão profissionais ou
voluntárias? Se não, quem garante a soberania e independência nacional, bem
como o patrulhamento das nossas águas e costas? Não podemos andar a brincar com
coisas sérias…
3. De França vem o alerta
que vários generais na reserva lançaram ao presidente Macron de um cenário de
possível guerra civil, em terras gaulesas. São várias as localidades e
departamentos (municípios) em estado de alerta e com incêndios e lutas nas
ruas. Esta situação de pré-guerra civil é, deveras, preocupante. A sociedade
francesa encerra em si forças antagónicas: por um lado, os adeptos de uma
França aberta, livre, democrática em que todos têm voz e lugar; e uma França
que cresce, dia após dia, que se fecha e que arrepende de ter aberto as
fronteiras. Como é que isto vai terminar? Só Deus saberá…
Sérgio Carvalho
Comentários
Enviar um comentário